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Estado da igreja e missões em Moçambique

By Missionário Francisco Vissonate

Não podemos falar destes dois temas sem antes entendermos o contexto histórico de ambos, tanto quanto aos factores que favoreceram e aos que não favoreceram o crescimento da mesma. O que somos hoje como igreja e missões, é produto dos paradigmas anteriormente estabelecidos.

Permita-me apresentar o contexto histórico da igreja e missões em Moçambique.

O movimento protestante em Moçambique tem início em 1885 com os Metodistas livres, depois a Missão de Nauela na Zambézia em 1913 mais tarde chegaram os Nazarenas em Tivane na província de Gaza em 1921. Esta última é o que mais cresceu, segundo o centro de estudos africanos. Também queremos apresentar nosso estudo de campo, produto da nossa exposição missionária ao longo destes anos.

Constatamos o seguinte: a disposição geográfica do nosso país, contribuío nos movimentos religiosos de maior expressão.

Ora vejamos: o Sul de Moçambique hoje é predominantemente protestante, já o centro é predominantemente Católico e o norte é predominantemente islamico.

Para cada uma dessas regiões existem aspectos peculiares. O sul, é composto por étnias com um alto censo de auto-estima, gerando aspectos de estrutura social definida produzindo um sentimento de pertença e identidade. Facto este que faz da igreja na região sul bastante expressiva, organizada e estruturada.

Enquanto que o centro é composto por étnias que foram influenciadas pelo sistema colonial com o que foi chamado de “assimilação” (abandono das suas raízes e tradições) em troca de oportunidade de educação. Isto proporcionou a alguns grupos um alto censo de conhecimento intelectual gerando pensadores, com uma crítica sobre tudo e todos causando assim, disconecção das suas raízes e tradições.

O centro é marcado também pelo factor guerra civil, durante este tempo, um novo movimento de evangelização, teve lugar pois, algumas igrejas evangélicas foram geradas nas zonas libertadas da “Renamo” (movimento rebelde que se opunha ao regime ditador comunista) nas províncias de Sofala, Manica, Tete e Zambézia, estas igrejas propagaram-se com ajuda de pastores dos países vizinhos que tinham uma abertura para entrar e ministrar entre os guerrilheiros e a comunidade das chamadas “zonas libertadas” Eeste movimento de evangelização pecou por não ter investido no ensino, alguns moçambicanos foram forçados a assumirem congregações iniciadas pelos estrangeiros ou guerrilheiros, sem nenhum treinamento tanto do básico, da fé Cristã, como do treinamento ministerial, abrindo precedentes para algum sincretismo religioso. Esta igreja fraca não conseguiou alcançar os intelectuais característico do centro, porque era desprovida de matéria teológica, credível tanto como a sua estrutura e organização.

Já na região norte encontramos um cenário de alto censo tradicional isto é, o Islão que previlégia pratícas cerimônias e ritualístas, dogmáticas na sua forma de ser e estar, gerando assim, aspectos de fidelidade as suas raízes e tradições.

No norte de Moçambique a igreja evangélica tem muito pouca expressão e com enormes dificuldade de expansão. Hoje com o trabalho de algumas missõesjá se podem ver uma abertura dos Macuas e os Yaos este último, é produto de um trabalho de Jocum com foco especifico para o alcance dos Yao. Há também um desafio recente, que podemos assistir no extremo norte da província de Cabo Delgado, vê-se o aparecimento de um movimento extremista Islâmico que tem perseguido a igreja e semeando terror entre as populações.

Na minha opinião existem vários factores que tem dificultado a igreja local na actividade missionária, porém vou apenas falar de dois.

O primeiro: está relacionado com os missionários evangélicos estrageiros que chegaram na época da guerra civil. Estes chegam e foram vistos como um socorro de tantos problemas que preocupavam a igreja.

A sociedade toda já vivia num ciclo vicioso de donativos, a igreja não esperava outra coisa se não donativos, pois a mesma sendo, pobre precisava de missionários para apoiar financeiramente, com construção de templos, apoio no sustento dos pastores, treinamentos ministerial que muitas vezes, os pastores e líderes, eram pagos para participarem nesses mesmos treinamentos. Lembro- me dos missionários da Jocum que chegaram na minha cidade Quelimane na Zambézia, terem contado aos missionarios antigos, que eles haviam chegado para treinar e mobilizar moçambicanos, a serem missionários. Este facto, chocou a comunidade velha guarda pois, o contexto dos moçambicanos demandava evangelização e ajuda social no cenário de pobreza extrema pós guerra civil.

Quando este paradigma foi quebrado na Jocum, nós missionários moçambicanos, ficamos na pele dos estrangeiros pois, a igreja esperava de nós apoio financeiro em vez do contrário. Porque a ideia era que nós estávamos a serviço das igrejas europeias ou americanas e eramos pagos para atender as necessidades dos pastores e suas igrejas.

“Subentendia-se que o missionário tinha a tarefa de ajudar a igreja financeiramente e não a igreja ajudar o missionário”.

O segundo: a dificuldade financeira da igreja gerou uma nova forma de fazer missões, para contornar essa responsabilidade financeira, sobre os missionários ou os enviados, a igreja passou a usar leigos no ministério, isto é profissionais “seculares” que viajavam a serviço em algum local, que não houvessem uma representação da denominação em alusão este, assumia a responsabilidade de evangelizar, ensinar a palavra de Deus aos novos convertidos e ele mesmo era responsável de cuidar financeiramente da igreja até a sua autonomia.

A grande preocupação da igreja moçambicana, são as missões locais, enviar missionários para povos distantes é um luxo pois muitas delas, mal conseguem sustentar os seus próprios pastores. Os missionários Moçambicanos que estão na diáspora são os que foram por conta própria.

Nossa experiência prova que não tarda o despertar da igreja em participar activamente em missões porque um novo fenômeno paira no horizonte, o que chamo de crescimento da classe média alta na sociedade moçambicana que incrementará uma melhor renda para igreja.

Eu e minha família fomos chamados para fazer missões na Itália mas, isto não foi de fácil digestão, porque a igreja não envia missionários para Europa. Chamados como esses tem custos elevadíssimos atendendo que, o custo de vida na Europa é muito alto, provocando questionamentostais como: como sobreviverão?

Porque os africanos vão para Europa em busca de melhores condições de vida, em busca de oportunidade de trabalho e equanto trabalha separa um tempo extra para fazer missões.

Concluindo, a Igreja moçambicana é forte no contexto religioso, é uma igreja forte na oração, forte na guerra espiritual, forte no exorcismo, forte na comunhão, e ela propaga-se fácil pela característica da organização social que é família alargada, porém falta discipulado, falta educação, falta uma cultura de leitura e escrita.

Missões transculturais ou transfronteiriços é um paradigma que transpõe recursos financeiros tem haver com saber ser, estar e fazer tem haver com educação.

Minha oração é que Deus nos ajude no processo de discipulado e educação da sua igreja.

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