“Uma viagem mudou tudo” – um momento missionário

Naquela época, eu estava aproveitando os primeiros anos de casamento e vivendo meus sonhos. Quando o chamado veio, minha resposta inicial foi um firme e sonoro “NÃO”. Mesmo assim, passei um bom tempo em oração e busquei orientação com crentes mais maduros. Ficou muito claro que, de fato, o Senhor estava me chamando para deixar meu emprego e segui-lo.
Contudo, apresentei minhas responsabilidades familiares e outras desculpas “válidas”. Sempre que sentia aquele incômodo interior, me lembrava do “absurdo” que seria abandonar um bom emprego para confiar em “alguém” para suprir minhas necessidades. No fundo, minhas desculpas escondiam o medo de perder o prestígio e a posição social que meu trabalho me dava. Eu me perguntava: “O que acontecerá com meus filhos, minha esposa jovem, meus pais idosos e todos que dependem de mim, se eu abandonar o emprego?” Eram perguntas muito reais para mim. Mas uma única jornada mudou tudo — e me fez render ao Senhor.
Era uma noite clara, com uma brisa suave. Eu estava voltando de ônibus para casa, depois de visitar meus pais em outra cidade. Ouvia música, com o cinto afivelado, curtindo a viagem, quando caí num sono profundo e estranho. Acordei com gritos horríveis, choros, confusão… pensei que estava tendo um pesadelo. Na verdade, havíamos sofrido um terrível acidente de trânsito! O ônibus estava virado de cabeça para baixo, e eu estava suspenso no ar, ainda preso ao cinto.
Havia muitos feridos ao meu redor, e sangue por toda parte. Meus pertences haviam sumido (provavelmente roubados). Quando consegui sair do ônibus, fiquei observando ambulâncias levando os passageiros feridos. Apesar de ser um profissional da saúde, eu estava tão em choque que não conseguia ajudar. Enquanto isso, perguntas ecoavam dentro de mim: “O que teria acontecido com meus filhos, minha esposa, meus pais idosos e todos que dependem de mim, se eu tivesse morrido neste acidente?” O prestígio ou o status social teriam algum valor?
Aquilo foi suficiente para eu me render ao chamado de Deus. Entendi que Ele havia me poupado como um alerta. Apresentei minha carta de demissão e compartilhei a decisão com minha esposa. Quando contei aos familiares mais próximos que deixaria o trabalho, muitos não aprovaram. Fizeram a mesma pergunta: “E sua família? E todos que dependem de você?” Alguns até acharam que o acidente havia me afetado mentalmente e que meu comportamento era resultado de trauma.
Hoje, nove anos depois de ser quebrado e moldado pelo Senhor, estamos servindo como mobilizadores transculturais no Lesoto. Nossa missão é convocar a Igreja Africana para a Grande Comissão — e fazemos isso com alegria e paz no coração!
– Levi “Kgotso”, mobilizador malawiano no Lesoto