Missões da Etiópia: uma história de oração e sacrifício
O Evangelho chegou pela primeira vez à Etiópia há quase 2000 anos. O Espírito Santo enviou Filipe ao deserto para explicar as Escrituras a um oficial Etíope na corte da rainha Candace (Actos 8). Hoje, o Espírito Santo envia Etíopes ao deserto para abrir as Escrituras para outros.
Um foco que começa a ganhar destaque entre alguns líderes de missões na Etiópia é o povo nómada Fulani, da África Ocidental, que vive na margem do deserto do Saara. A sua população, estimada em 40 milhões em 20 países, é maioritariamente muçulmana, e muitos também praticam a religião indígena. Lado a lado, os Fulani e os Etíopes parecem irmãos, e a lenda diz que os Fulani são originários da Etiópia. Num dos Hadith, Muhammed interditou os seus seguidores de fazer mal aos Etíopes, o que hoje os tornam amigos naturais.
O Gabinete da África Oriental (GAO), organizou uma conferência de dois dias em Adis Abeba, em Junho de 2019, atraindo participantes de várias igrejas e denominações. Entre os participantes estava Tambaya Ibrahim, um líder da igreja Fulani do Níger. Ele dirige uma escola bíblica Fulani e faz parte duma equipa de tradução das Escrituras. Tambaya e Rev. Gashaw, missionário Etíope no Mali, fizeram um apelo, e oito responderam, comprometendo-se a ajudar a chegar aos Fulani.
Juntos e por si mesmos, a Missão Global da Igreja Etíope Kale Heywet (Ethiopian Kale Heywet Church Global Mission), a agência missionária da Igreja Evangélica Mekane Yesus, designada de International Mission Society, e o GAO enviaram mais de 60 missionários para fora da Etiópia, todos apoiados pelas suas igrejas de origem. O GAO agora também envia Quenianos, Eritreus, Tanzanianos e Ugandenses por intermédio do seu escritório. Cinco famílias da EKHC, enviadas pelo GAO, agora servem entre os Fulani no Gana, no Níger, no Mali e na Guiné. Outros chegarão à Nigéria no futuro.
Uma história de oração
A oração tem estado no coração da história das missões na Etiópia. Desta Langena, director do Movimento Internacional de Oração e Missões Ambaricho (Ambaricho International Prayer and Missions Movement – AIPM), conta essa história.
O governo comunista, que assumiu o sistema político do país em 1974, enviou professores e estudantes para as comunidades, visando erradicar o analfabetismo e introduzir a ideologia comunista. Um dia, eles foram à casa de um feiticeiro chamado Aba-Sarecho na montanha de Ambaricho e levaram todos os objectos de adoração satânica, avisando-o para não continuar os seus rituais. Este foi o início do fim da adoração idólatra do povo Kambatta na montanha de Ambaricho, e a prova de que Deus pode usar qualquer coisa – até o comunismo – para derrubar fortalezas.
Apesar das perseguições turbulentas, a Igreja de Kambatta cresceu e os crentes oraram, adoraram e influenciaram a sociedade.
Em 1990, um avivamento surgiu subitamente na Igreja Teza Kale Heywet. Um evangelista, Tesfaye Gebre, passou 30 dias a jejuar e a orar pela manifestação da glória de Deus. Ele reuniu mais de 25 cristãos em oração, para se juntarem a ele. Quando o avivamento ocorreu, mais de 25000 pessoas vieram a Cristo e mais de 30000 receberam curas milagrosas.
As notícias espalharam-se e muitos outros começaram a escalar a montanha de Ambaricho, para a oração de intercessão. Pessoas comprometeram com a evangelização e a plantação de igrejas. Após anos de oração, o 22º feiticeiro Aba-Sarecho aceitou Cristo como seu Salvador pessoal.
Em 2003, o recém-formado AIPM enviou o seu primeiro missionário pioneiro. Hoje são 346 missionários enviados pelo AIPM para trabalhar fora do seu próprio grupo étnico. Isso conduziu à salvação de mais de 50000 pessoas e à plantação de 750 igrejas em toda a Etiópia.1
Uma história de sacrifício
Os crentes na Etiópia estão familiarizados com a perseguição. O que se segue é narrado por Jack Bryan na revista O cristianismo hoje (Christianity Today):
Depois da invasão da Etiópia pela Itália, em 1935, os missionários ocidentais fugiram ou foram forçados a partir. Entre eles estavam os dois primeiros missionários da Missão do Interior do Sudão (actualmente, SIM), que tinham plantado uma igreja em Sidama, região sul conhecida pelo plantio de café. Eles foram atacados no caminho e mortos. Após a expulsão dos ocupantes italianos, a SIM enviou mais quatro missionários para Sidama, onde três foram logo mortos.
Lamentando as suas perdas, as congregações de Sidama prestaram um juramento insólito: “Devemos nos vingar das suas mortes, enviando os nossos próprios missionários.”
Actualmente, existem mais de 1000 igrejas Kale Heywet em Sidama e elas enviam mais de 250 missionários transculturais.2
Deus não desperdiça a história de uma pessoa, de um povo ou de uma nação. Mesmo a perseguição, o comunismo e os mártires podem contribuir, na plenitude do tempo (Gálatas 4:4), para cumprir os propósitos do amor de Deus para uma igreja e uma nação. Actualmente, os missionários Etíopes podem ser encontrados nas regiões do Sahel e do deserto do Saara, em nações de acesso restrito em toda a Ásia, na Europa e na América do Norte. Eles estão a escrever um novo capítulo na maior história de todas, a história que termina com pessoas de todas as nações, em adoração diante do trono de Deus.
Seis meses após o arranque do GAO em 2012, ajudou a fundar a Rede Missionária Global Etíope (Ethiopian Global Mission Network), uma rede de cerca de 20 denominações, ministérios e agências missionárias. A expectativa é ver a Etiópia a transformar-se num país forte, de envio de missionários.
FONTES:
- Reclaiming the Mountain by Desta Langena. AfriGO Vol 2, Iss 2. p8-9.
- Is the World’s Next Missions Movement in Ethiopia? por Jack Bryan. Christianity Today, p50- 53. Junho 2017.